domingo, 19 de outubro de 2008

5760 Metros e Neve à mistura!


Meus caros companheiros de aventura…Sim companheiros! Porque quem me acompanha pelo blogue também está envolvido em todos estes desafios pelo Peru, quero revelar-vos que no dia 2 de Outubro realizei o maior desafio da minha vida!

Aproveitando o facto de estar aclimatado à altitude, de estar próximo de umas das mais desafiantes cordilheiras do mundo e de estar decidido como nunca a realizar esta expedição, coloquei a minha mochila às costas e parti em direcção ao Nevado Pisco que está só a 5760 metros acompanhado pelo melhor guia de montanha do Peru! Realço que o pico da montanha europeia mais alto está a 5633 metros, o Elbrus nassia europeia, e se excluirmos as regiões europeias da Rússia e da Turquia, o pico mais alto passa a ser o do Monte Branco na França, que está a 4807 metros.

O Nevado Pisco está localizado na famosa Cordilheira Branca que é dominada pelo imponente Huascarán de 6768 metros e para quem nunca escalou um nevado é uma boa opção para começar. Não é dos nevados mais baixos, no entanto o seu acesso é relativamente fácil tendo em conta os gigantes que o rodeiam. Contudo convém que referir que a altitude não é o único elemento de dificuldade em alpinismo, alguns nevados são mais baixos mas exigem a designada escalada técnica em rocha ou em gelo, de diferentes graus de dificuldade consoante a inclinação da via. Como verão nalgumas fotos o único acesso ao pico de certas montanhas é por paredes de rocha. Este sem dúvida que será o próximo nível que quero alcançar, mas penso que não será em breve…não imaginam o cansaço envolvido num desafio deste tipo...

Falando então na expedição ao Nevado Pisco

…ainda era de madrugada quando saímos de Huaraz em direcção à povoação de Yungay, considerada a porta de acesso da região da Cordilheira Branca que íamos explorar. A parte mais elevada da cordilheira, talvez acima dos 3500 metros, está integrada e protegida pelo Parque Nacional de Huascarán que nos agracia desde logo com 2 lagoas de um verde incrível, conhecidas por Lagunas Llanganuco.

Yungay e o seu mercado colorido...

Lagunas Llanganuco e o seu verde peculiar!

Entrada do Parque Nacional Huascarán...

Uma vez dentro do parque prosseguimos a pé em direcção ao Campo Base do Nevado Pisco e Huandoy, situado a 4680 metros, sempre “vigiados” pelos picos brancos da cordilheira e foi quando me apercebi da dimensão do desafio em causa. Por cada metro que andava o Nevado Pisco, ao longe, tornava-se cada vez mais perceptível. Tivemos sorte pois na altura não chovia nem nevava como iria acontecer ao fim da tarde.

...as águas d'um riacho que terão o Pacífico como destino final...

A break!

...naturaleza en la montaña!

O carregador do nosso material...

O Campo Base basicamente consiste num ponto intermédio de acesso a um cume, podendo por vezes existir vários. No nosso caso para além deste também existia um mais acima chamado Campo Morena contudo raramente é utilizado pois o acesso dos anima

is de carga ao mesmo é complicado requerendo que o transporte do material seja feito à nossa custa. O Campo Base que mencionei, além de ter um terreno para acampar, possui uma Casa Abrigo que proporciona alojamento e refeições. À parte dos alojamentos pagos existe uma pequena secção com 4 camas em que o acesso é livre. Ora como não estava ocupado porque não aproveitar e evitar assim a montagem das tendas?

...o Campo Base e os seus 4680 metros de altitude...

Era 1h00 em ponto quando deixámos o Campo Base em direcção ao tão desejado cume do Nevado Pisco. Auxiliados por lanternas e bastões ultrapassamos a chamada Morena que é basicamente uma parte da montanha constituída por milhares de rochas fragmentadas pelo glaciar que em tempos aqui repousou. O cenário é cinzento, algo lunar e ainda estou para acreditar como consegui ultrapassar este labirinto sinuoso de rochas em plena escuridão. A desorientação era relativamente fácil por isso é que aconselho a serem acompanhados sempre por um bom guia.

Chegámos ao sopé do glaciar justamente ao nascer do sol e fui inesquecível observar a reflexão dos raios avermelhados nas montanhas esbranquiçadas. Iniciar a caminhada pelo gelo, auxiliado também por “granpones”, esteve por sua vez associada a um incremento da dificuldade e do risco, por isso é que nesta situação é aconselhado o uso de uma corda e um afastamento entre os elementos da expedição de mais ou menos 8 metros pois caso algum dos elementos caia numa greta é possibilitada uma reacção atempada e segura. Tive que transpor algumas gretas e admito que foi assustador aperceber-me da sua profundidade.

...o amanhecer na cordilheira Branca...

Nevado Huandoy...que requer escalada técnica em rocha.

...a la derecha el Nevado Huascarán!

...durante a caminhada fomos agraciados por bons momentos de sol!

...à direita o bem definido Nevado Arteson!

Pormenor do cume do Arteson...um sonho para qualquer alpinista...

...blanco y mas blanco...

Uma greta!

...o que faltava subir...

Algumas das subidas mais difíceis...

A última subida!

O percurso pelo gelo pico foi extenuante, nunca me senti tão cansado, cada passada significava um enterro na neve e cada metro percorrido era sinal de menos oxigénio… Curiosamente a temperatura não me causou qualquer problema.

Por isso mesmo tive vários momentos de descanso como se pode observar nas seguintes fotos…

Esta expedição também esteve associada a umahistória algo curiosa de um fotógrafo italiano que surgiu do nada, sem qualquer material de alpinismo e que com uma facilidade invejável alcançou o pico do Nevado Pisco. Imaginem o que é estarem no meio da neve e de repente surgir alguém a dizer “Buenos Dias!!!”. Algo assustador não? Mas este maluquito teve sorte…pois contam-se histórias de pessoas que se aventuraram sozinhas neste mesma montanha e que nunca mais foram avistadas.

...o maluquito ao longe...

Foi em completo esforço que ultrapassei a última subida e consegui alcançar o cume! No último passo dei um enorme salto de forma aterrar o mais rápido possível na parte mais plana das redondezas…Devo ter estado mais de 5 minutos deitado a tentar recuperar forças e a pensar como iria voltar…

No momento em que chegámos ao topo infelizmente estava nublado sendo apenas visível uma parte das montanhas vizinhas. Tinham passado 8h30 desde que iniciamos a caminhada e os relógios marcavam as 9h30. Nunca mais me esquecerei das formas pontiagudas do Arteson e do Alpamayo dai avistadas…

O momento de conquista!

...o que se pôde avistar do topo...

... e o nevoeiro que impediu a observação da restante cordilheira!

Me and Lucho!

Após uns minutos de êxtase começava a surgir um problemazito…como é que eu cansado como estava conseguiria regressar…e para agravar o problema sabia muito bem o que me esperava…

Mas como todos os santos ajudam…meio a rebolar…lá desci a montanha e foi quando comecei a avistar a parte do percurso nocturno…novamente refiro que ainda não sei como o conseguimos.

Após descidas e subidas pelo meio de grandes blocos de pedra e finalmente depois da última subida alcancei uma óptima posição para observar o Campo Base. Depois disto apenas faltava a última caminhada para a cama que me aguardava!


...ao centro pode-se avistar o Campo Base!

No dia seguinte, de madrugada, lá abandonámos a nossa posição para regressarmos à base da montanha e assim finalizarmos o desafio que tão cedo não irei ultrapassar!

Um grande plano do trajecto percorrido até ao topo!


...o que faltava descer...

Uma das várias vizcachas observadas...são algo entre lebres e chinchilas!

...um bezerrito assustado...

Para terminar queria reconhecer os conselhos, apoio e incentivo constante ao longo de toda a caminhada por parte do Lucho, o melhor guia de montanha do Peru. Se alguma vez quiserem fazer o mesmo não hesitem em contactá-lo na Galaxy Expeditions.

domingo, 12 de outubro de 2008

...terminando...

…de falar sobre a última aventura, pois uma nova sem precedentes já se concretizou, apenas queria revelar que depois da incursão pela selva dirigi-me à antiga terra da cultura Chimú algures nos arredores da colonial cidade de Trujillo, conhecida por ser a primeira cidade do Peru a declarar a sua independência e famosa por ser um viveiro de revolucionários. Desta cidade destaco as coloridas fachadas dos antigos edifícios coloniais, as janelas desses mesmos edifícios protegidas por belíssimos gradeamentos forjados e os seus muito europeizados cafés que me permitiram por momentos “respirar” momentos de tranquilidade e conforto, algo que desde que estou em obra não me é permitido!

Hotel Colonial...onde fiquei alojado!

Cruce en Trujillo!

Plaza de Armas...bastante colorida!

Fachada colonial típica de Trujillo!

Trujillo nocturno!

Após uma visita matinal pelas “calles” muito hispânicas de Trujillo ingressei numa outra expedição, desta vez pelas ruínas de duas importantes culturas, a já referida cultura Moche que também tive a oportunidade de apreciar mais a norte em Chiclayo e a peculiar cultura Chimú.
Das ruínas da cultura Moche não me esquecerei da intacta decoração das paredes do edifício cerimonial “Huaca de la Luna” que peculiarmente era constituído por uma sucessão de sobreposições de camadas de blocos de adobe cada vez que um der aí era sepultado. Pelo que me recordo apresentava pelo menos 5 níveis e fui interessante observar a evolução da decoração ao longo dos tempos nesses mesmos níveis.

Decoração dos muros de um dos níveis da Huaca de la Luna!

...rampa de acesso ao topo do edifício cerimonial com algumas decorações ainda intactas!

...como seria a Huaca nos seus tempos de apogeu...

Huaca del Sol ao fundo...ainda não muito visitada!

Mais uma vez ao fim de alguns minutos de visita pela Huaca de la Luna arranjei companhia para o resto do Tour, desta vez três chicas francesas em que uma delas, imaginem como o mundo é pequeno, era filha de emigrantes portugueses, a Sandra, que me proporcionou uma interessante conversa em português como muito não me era possibilitado.

Após um almocito típico das segundas-feiras em Trujillo, Shambar, seguimos em direcção à maior construção em adobe da América, Chan Chan (“Sol Sol” em chimú…)

Foi simplesmente genial visitar esta antiga cidade/capital da cultura Chimú, os seus muros delicadamente decorados, as suas praças cerimoniais gigantes e o inesperado oásis algures localizado entre os seus labirínticos muros de adobe.

...um aperitivo do que viria a seguir, Huaca Esmeralda!

Peixinhos nos muros...uma influência do Oceano Pacífico ali tão perto!

Pormenor do floreado dos muros que ao fim destes anos todos ainda estão intactos!

Uma das várias praças cerimoniais...

...corredores intermináveis ladeados por resistentes muros de adobe!

...quem diria que existiria um oásis dentro desta cidade...


Para terminar o dia nada melhor que comer um torrãozito à beira mar em Huanchaco, famoso pelos seus barcos de verga ainda utilizados pelos pescadores locais.


No dia seguinte a missão por mim imposta foi chegar a Huaraz por uma rota bastante alternativa, devido ao estado primário “de la carretera”, mas de uma beleza fantástica, a rota por “el Cañon del Pato”, onde as duas Cordilheiras Branca e Negra quase se tocam formando um desfiladeiro incrível e para os mais curiosos onde se localiza uma importante barragem gerida pela Duck Energy. Realço também desta viagem de várias horas os sucessivos túneis escavados de uma forma bastante primitiva.

Assim se passaram 7 dias incríveis…mas que não se igualarão ao desafio que ultrapassei nos meus mais recentes dias de descanso….