Meus caros companheiros de aventura…Sim companheiros! Porque quem me acompanha pelo blogue também está envolvido em todos estes desafios pelo Peru, quero revelar-vos que no dia 2 de Outubro realizei o maior desafio da minha vida!
Aproveitando o facto de estar aclimatado à altitude, de estar próximo de umas das mais desafiantes cordilheiras do mundo e de estar decidido como nunca a realizar esta expedição, coloquei a minha mochila às costas e parti em direcção ao Nevado Pisco que está só a 5760 metros acompanhado pelo melhor guia de montanha do Peru! Realço que o pico da montanha europeia mais alto está a 5633 metros, o Elbrus na Rússia europeia, e se excluirmos as regiões europeias da Rússia e da Turquia, o pico mais alto passa a ser o do Monte Branco na França, que está a 4807 metros.
O Nevado Pisco está localizado na famosa Cordilheira Branca que é dominada pelo imponente Huascarán de 6768 metros e para quem nunca escalou um nevado é uma boa opção para começar. Não é dos nevados mais baixos, no entanto o seu acesso é relativamente fácil tendo em conta os gigantes que o rodeiam. Contudo convém que referir que a altitude não é o único elemento de dificuldade em alpinismo, alguns nevados são mais baixos mas exigem a designada escalada técnica em rocha ou em gelo, de diferentes graus de dificuldade consoante a inclinação da via. Como verão nalgumas fotos o único acesso ao pico de certas montanhas é por paredes de rocha. Este sem dúvida que será o próximo nível que quero alcançar, mas penso que não será em breve…não imaginam o cansaço envolvido num desafio deste tipo...
Falando então na expedição ao Nevado Pisco…
…ainda era de madrugada quando saímos de Huaraz em direcção à povoação de Yungay, considerada a porta de acesso da região da Cordilheira Branca que íamos explorar. A parte mais elevada da cordilheira, talvez acima dos 3500 metros, está integrada e protegida pelo Parque Nacional de Huascarán que nos agracia desde logo com 2 lagoas de um verde incrível, conhecidas por Lagunas Llanganuco.
Yungay e o seu mercado colorido...
Lagunas Llanganuco e o seu verde peculiar!
Entrada do Parque Nacional Huascarán...
Uma vez dentro do parque prosseguimos a pé em direcção ao Campo Base do Nevado Pisco e Huandoy, situado a 4680 metros, sempre “vigiados” pelos picos brancos da cordilheira e foi quando me apercebi da dimensão do desafio em causa. Por cada metro que andava o Nevado Pisco, ao longe, tornava-se cada vez mais perceptível. Tivemos sorte pois na altura não chovia nem nevava como iria acontecer ao fim da tarde.
...as águas d'um riacho que terão o Pacífico como destino final...
A break!
...naturaleza en la montaña!
O carregador do nosso material...
O Campo Base basicamente consiste num ponto intermédio de acesso a um cume, podendo por vezes existir vários. No nosso caso para além deste também existia um mais acima chamado Campo Morena contudo raramente é utilizado pois o acesso dos anima
is de carga ao mesmo é complicado requerendo que o transporte do material seja feito à nossa custa. O Campo Base que mencionei, além de ter um terreno para acampar, possui uma Casa Abrigo que proporciona alojamento e refeições. À parte dos alojamentos pagos existe uma pequena secção com 4 camas em que o acesso é livre. Ora como não estava ocupado porque não aproveitar e evitar assim a montagem das tendas?
...o Campo Base e os seus 4680 metros de altitude...
Era 1h00 em ponto quando deixámos o Campo Base em direcção ao tão desejado cume do Nevado Pisco. Auxiliados por lanternas e bastões ultrapassamos a chamada Morena que é basicamente uma parte da montanha constituída por milhares de rochas fragmentadas pelo glaciar que em tempos aqui repousou. O cenário é cinzento, algo lunar e ainda estou para acreditar como consegui ultrapassar este labirinto sinuoso de rochas em plena escuridão. A desorientação era relativamente fácil por isso é que aconselho a serem acompanhados sempre por um bom guia.
Chegámos ao sopé do glaciar justamente ao nascer do sol e fui inesquecível observar a reflexão dos raios avermelhados nas montanhas esbranquiçadas. Iniciar a caminhada pelo gelo, auxiliado também por “granpones”, esteve por sua vez associada a um incremento da dificuldade e do risco, por isso é que nesta situação é aconselhado o uso de uma corda e um afastamento entre os elementos da expedição de mais ou menos 8 metros pois caso algum dos elementos caia numa greta é possibilitada uma reacção atempada e segura. Tive que transpor algumas gretas e admito que foi assustador aperceber-me da sua profundidade.
...o amanhecer na cordilheira Branca...
Nevado Huandoy...que requer escalada técnica em rocha.
...a la derecha el Nevado Huascarán!
...durante a caminhada fomos agraciados por bons momentos de sol!
...à direita o bem definido Nevado Arteson!
Pormenor do cume do Arteson...um sonho para qualquer alpinista...
...blanco y mas blanco...
Uma greta!
...o que faltava subir...
Algumas das subidas mais difíceis...
A última subida!
O percurso pelo gelo pico foi extenuante, nunca me senti tão cansado, cada passada significava um enterro na neve e cada metro percorrido era sinal de menos oxigénio… Curiosamente a temperatura não me causou qualquer problema.
Por isso mesmo tive vários momentos de descanso como se pode observar nas seguintes fotos…
Esta expedição também esteve associada a umahistória algo curiosa de um fotógrafo italiano que surgiu do nada, sem qualquer material de alpinismo e que com uma facilidade invejável alcançou o pico do Nevado Pisco. Imaginem o que é estarem no meio da neve e de repente surgir alguém a dizer “Buenos Dias!!!”. Algo assustador não? Mas este maluquito teve sorte…pois contam-se histórias de pessoas que se aventuraram sozinhas neste mesma montanha e que nunca mais foram avistadas.
...o maluquito ao longe...
Foi em completo esforço que ultrapassei a última subida e consegui alcançar o cume! No último passo dei um enorme salto de forma aterrar o mais rápido possível na parte mais plana das redondezas…Devo ter estado mais de 5 minutos deitado a tentar recuperar forças e a pensar como iria voltar…
No momento em que chegámos ao topo infelizmente estava nublado sendo apenas visível uma parte das montanhas vizinhas. Tinham passado 8h30 desde que iniciamos a caminhada e os relógios marcavam as 9h30. Nunca mais me esquecerei das formas pontiagudas do Arteson e do Alpamayo dai avistadas…
O momento de conquista!
...o que se pôde avistar do topo...
... e o nevoeiro que impediu a observação da restante cordilheira!
Me and Lucho!
Após uns minutos de êxtase começava a surgir um problemazito…como é que eu cansado como estava conseguiria regressar…e para agravar o problema sabia muito bem o que me esperava…
Mas como todos os santos ajudam…meio a rebolar…lá desci a montanha e foi quando comecei a avistar a parte do percurso nocturno…novamente refiro que ainda não sei como o conseguimos.
Após descidas e subidas pelo meio de grandes blocos de pedra e finalmente depois da última subida alcancei uma óptima posição para observar o Campo Base. Depois disto apenas faltava a última caminhada para a cama que me aguardava!
...ao centro pode-se avistar o Campo Base!
No dia seguinte, de madrugada, lá abandonámos a nossa posição para regressarmos à base da montanha e assim finalizarmos o desafio que tão cedo não irei ultrapassar!
Um grande plano do trajecto percorrido até ao topo!
...o que faltava descer...
Uma das várias vizcachas observadas...são algo entre lebres e chinchilas!
...um bezerrito assustado...
Para terminar queria reconhecer os conselhos, apoio e incentivo constante ao longo de toda a caminhada por parte do Lucho, o melhor guia de montanha do Peru. Se alguma vez quiserem fazer o mesmo não hesitem em contactá-lo na Galaxy Expeditions.