domingo, 21 de dezembro de 2008

Feliz Navidad!

Olá amigos e querida família!



Já tinha saudades de publicar qualquer coisita no blogue, no entanto ainda não é desta vez que relato as minhas últimas aventuras …

… que já me permitiram observar enormes lobos-marinhos no Chile; visitar o exótico zoo de Lima; trabalhar numa mina de cobre em Arequipa; viver numa ilhota do lago Titicaca; visitar o Museu de la Coca em La Paz, Bolívia; navegar ao largo das ilhas Ballestas em Paracas …

Na realidade o motivo deste pequeno comentário é simplesmente desejar-vos um…


FELIZ NATAL!


Meus caros companheiros de aventuras e amigos de longa data espero que este Natal signifique para vocês um agradável convívio com as vossas famílias e peço-vos por favor que se deliciem com os nossos queridos doces e petiscos de Natal, como só em Portugal se pode degustar.

Para aqueles que não estarão em Portugal com as famílias, tal como eu, só poderei desejar que se divirtam imenso nos vários encontros que se irão realizar por esse mundo fora.

À minha querida família queria simplesmente dizer que embora não estejamos fisicamente reunidos neste Natal não significa que não estarão comigo nesse agradável momento … e sabem perfeitamente que para nós o Natal são todos aqueles pequenos momentos em que estamos juntos. De facto vou ter imensas saudades de chegar a casa e ver a minha mamã e avós a fazerem as filhoses, as rabanadas, os mil e um doces, o bacalhauzinho …. vou ter saudades do meu papá dizer que já está farto de bacalhau cozido … vou ter saudades das reacções do meu avô e mano ao abrirem as prendas … vou ter saudades de acordar bem cedo e ver a mesa cheia de doces irresistíveis …

Mais uma vez desejo a toda a minha família um Bom Natal.


Devem estar a perguntar, mas e tu? Onde vais passar o Natal?

Pois…nos últimos momentos…decidi-me ir passar o Natal ao Brasil, mais concretamente ao Rio de Janeiro, onde me reunirei com os meus queridos e divertidos camaradas Inóvios :D

Estou curioso em passar o Natal em pleno Verão austral e em festa, oh yehh!

Um grande abraço e muitos beijinhos para todos!

sábado, 22 de novembro de 2008

Cajamarca y Chavín!

Hola amigos! Qué tal?

Tenho andado um pouco desaparecido…sem dar novidades…mas como é óbvio isso não é sinal de falta de aventuras! Até pelo contrário…nestes últimos tempos já estive no Chile, em Cajamarca, em Lima e até já mudei de obra…estando agora em Arequipa…no sul do Peru.

São tantas as paisagens, ruínas, peculiaridades que quero publicar que nem sei por onde começar…mas admitindo um critério cronológico…

…voltamos ao ponto final da minha escalada ao Nevado Pisco…mesmo cansado ainda tive energias de reserva para embarcar numa longa viagem até Cajamarca, na serra norte do Peru…necessitando um dia para chegar e tendo que suportar os solavancos contínuos do autocarro devido ao péssimo estado da estrada…a pior que alguma vez vi!

Mapa do Peru em que Cajamarca está assinalada no rectângulo superior


Cajamarca na antiguidade foi um importante interposto da rota andina que conectava Cusco a Quitos e foi nesta cidade com traços coloniais que os espanhóis capturaram e condenaram à morte Atahualpa, um dos filhos do inca Huayna Cápac que com a morte do pai teve que compartir o que restava do império inca com o seu irmão Huáscar. Contudo Atahualpa que ficou responsável pela governação da região norte do império não ficou agradado com esta repartição embarcando numa guerra civil com Huáscar que por sua vez governava desde Cusco a região sul do antigo império.

Como curiosidade penso que é interessante referir que antes da sua condenação à morte o inca Atahualpa em desespero pagou aos espanhóis um resgate milionário, diz-se que quase 6.000 kg de ouro e 12.000 kg de prata foram fundidos e convertidos em lingotes.

Actualmente Cajamarca é conhecida pelas suas importantíssimas minas de ouro, principalmente a mina de Yanacocha uma das mais produtivas do mundo, uma vez que as montanhas circundantes estão repletas de ouro. Estupidamente Cajamarca, que recebe valiosas contribuições da exploração mineira, continua a ser uma das regiões mais atrasadas e pobres do Peru.

Panorâmica de Cajamarca...em que se destaca o Cerro Santa Apolonia no centro

Pelos meus vários passeios no centro histórico pude aperceber-me que Cajamarca ainda preserva a sua herança colonial espanhola, pela primeira vez senti-me como se estivesse nas “calles” andaluzas espanholas. Por exemplo as fachadas das igrejas preservam a pedra barrocamente trabalhada ao contrário do colorido vivaço das restantes igrejas peruanas. Também é comum constatar que as torres de algumas das igrejas, como a catedral, estão inacabadas pois segundo li a intenção era evitar o pagamento de impostos à corte espanhola, obrigatório uma vez que se finalizava uma igreja.

Igreja de San Francisco e detalhe da sua fachada

Catedral com as suas torres imcompletas!

Os arredores de Cajamarca também estão recheados de muitos outros atractivos, muitos deles considerados maravilhas peruanas, como os Baños Termales del Inca, Cumbe Mayo e as Ventanillas de Otuzco. Como o tempo é um bem limitado apenas explorei os dois últimos destinos.

Em Cumbe Mayo podem-se avistar inúmeras formações rochosas fora do comum em que cada rocha segundo a nossa imaginação se transforma numa interessante figura, como tartarugas, piratas e entre outras… Além disso este mesmo local alberga perfeitos canais conformados nas rochas realçando a perícia das antigas culturas de Cajamarca.

Perspectiva das formações rochosas de Cumbe Mayo

Canal talhado na rocha!


Cajamarquinas com os seus "sombreros" típicos

As Ventanillas de Otuzco como o próprio nome o indicia são várias câmaras escavadas num maciço rochoso que foram utilizadas para fins funerários. Estas várias câmaras por sua vez estão interligadas entre si labirinticamente, tendo sido divertidamente percorridas pelos visitantes durante vários anos até que uma consciência de preservação do património foi assumida.

Ventanillas de Otuzco!

No final do dia o Tour ainda nos permitiu visitar os chamados Alpes Suíços, um local próximo de Cajamarca famoso pela sua produção de queijo e de Manjar Blanco, não faltando uma breve degustação destes “ícones” de Cajamarca.

...uma das várias fábrica de queijo Cajamarquinas..

O dia seguinte foi completamente “perdido” no meu regresso para Huaraz, via Trujillo, no entanto nessa manhã ainda tive um tempito para visitar o Cerro Santa Apolónia, que não é mais do que uma protuberância na cidade de Cajamarca onde segundo as lendas locais estão localizados a “Silla del Inca” e um labirinto que terá ligação à antiga capital do império, Cusco. O acesso a este labirinto actualmente não é permitido visto que várias pessoas se perderam nunca tendo sido novamente avistadas.

O Bom Jesus de Braga lá do sítio...mas com menos encanto :d

Mal cheguei a Huaraz, ainda de manhãzinha e depois de uma longa viagem nocturna de autocarro, entrei num outro bus agora com destino a Chavín de Huantár onde estão localizadas as ruínas da maior estrutura ainda existente da cultura Chavín, uma das mais antigas do continente e influentes a nível cultural.

...a caminho de Chavín de Huantár...onde no ponto mais alto fomos agraciados com flocos de neve :D

A ponte de madeira que nos conectava com as ruínas...

...isto sim são Lamas...que deambulavam dentro do recinto das ruínas livremente!

Provavelmente esta estrutura foi um grande centro cerimonial, cujos edifícios foram construídos entre 1200 e 800 a.C., em que se destacam os seus incríveis e complexos túneis subterrâneos utilizados em rituais religiosos.

..."yo en la plaza ceremonial"...

...edifício principal do monumento...

Portal com colunas trabalhadas!


"el Lanzón"...algures na confluência de vários túneis...

...perdido nos labirínticos túneis...ainda com vestígios de queimaduras na cara em resultado da subida ao Nevado Pisco!

Muro com a única "cabeza clava" que ainda se mantêm intacta...as restantes encontram-se em museus...sendo os ícones mais conhecidos da cultura Chavín.

No final da visita como estava com fomeca...porque não experimentar o tal "Cuy Picante"...que é simplesmente um Porquinho da Índia frito...admito que me custou começar a devorá-lo devido às suas patitas muito explícitas...além disso não foi lá grande coisa...pois carne nem vê-la lololol

"Cuy Picante"...mais conhecido por Porquinho da Índia :d

"Serranas" em fila de espera para serem atendidas no banco...aonde estarão os esposos??


Assim terminou este “pack” de dias livres cujo auge foi atingido com a subida ao Nevado Pisco.

Em breve espero publicar mais fotos da região andina onde vivi vários meses, uma vez que já me encontro numa outra obra, bem como da minha exploração por terras chilenas no qual alcancei as portas de entrada da misteriosa Patagónia.

Hasta pronto!

domingo, 19 de outubro de 2008

5760 Metros e Neve à mistura!


Meus caros companheiros de aventura…Sim companheiros! Porque quem me acompanha pelo blogue também está envolvido em todos estes desafios pelo Peru, quero revelar-vos que no dia 2 de Outubro realizei o maior desafio da minha vida!

Aproveitando o facto de estar aclimatado à altitude, de estar próximo de umas das mais desafiantes cordilheiras do mundo e de estar decidido como nunca a realizar esta expedição, coloquei a minha mochila às costas e parti em direcção ao Nevado Pisco que está só a 5760 metros acompanhado pelo melhor guia de montanha do Peru! Realço que o pico da montanha europeia mais alto está a 5633 metros, o Elbrus nassia europeia, e se excluirmos as regiões europeias da Rússia e da Turquia, o pico mais alto passa a ser o do Monte Branco na França, que está a 4807 metros.

O Nevado Pisco está localizado na famosa Cordilheira Branca que é dominada pelo imponente Huascarán de 6768 metros e para quem nunca escalou um nevado é uma boa opção para começar. Não é dos nevados mais baixos, no entanto o seu acesso é relativamente fácil tendo em conta os gigantes que o rodeiam. Contudo convém que referir que a altitude não é o único elemento de dificuldade em alpinismo, alguns nevados são mais baixos mas exigem a designada escalada técnica em rocha ou em gelo, de diferentes graus de dificuldade consoante a inclinação da via. Como verão nalgumas fotos o único acesso ao pico de certas montanhas é por paredes de rocha. Este sem dúvida que será o próximo nível que quero alcançar, mas penso que não será em breve…não imaginam o cansaço envolvido num desafio deste tipo...

Falando então na expedição ao Nevado Pisco

…ainda era de madrugada quando saímos de Huaraz em direcção à povoação de Yungay, considerada a porta de acesso da região da Cordilheira Branca que íamos explorar. A parte mais elevada da cordilheira, talvez acima dos 3500 metros, está integrada e protegida pelo Parque Nacional de Huascarán que nos agracia desde logo com 2 lagoas de um verde incrível, conhecidas por Lagunas Llanganuco.

Yungay e o seu mercado colorido...

Lagunas Llanganuco e o seu verde peculiar!

Entrada do Parque Nacional Huascarán...

Uma vez dentro do parque prosseguimos a pé em direcção ao Campo Base do Nevado Pisco e Huandoy, situado a 4680 metros, sempre “vigiados” pelos picos brancos da cordilheira e foi quando me apercebi da dimensão do desafio em causa. Por cada metro que andava o Nevado Pisco, ao longe, tornava-se cada vez mais perceptível. Tivemos sorte pois na altura não chovia nem nevava como iria acontecer ao fim da tarde.

...as águas d'um riacho que terão o Pacífico como destino final...

A break!

...naturaleza en la montaña!

O carregador do nosso material...

O Campo Base basicamente consiste num ponto intermédio de acesso a um cume, podendo por vezes existir vários. No nosso caso para além deste também existia um mais acima chamado Campo Morena contudo raramente é utilizado pois o acesso dos anima

is de carga ao mesmo é complicado requerendo que o transporte do material seja feito à nossa custa. O Campo Base que mencionei, além de ter um terreno para acampar, possui uma Casa Abrigo que proporciona alojamento e refeições. À parte dos alojamentos pagos existe uma pequena secção com 4 camas em que o acesso é livre. Ora como não estava ocupado porque não aproveitar e evitar assim a montagem das tendas?

...o Campo Base e os seus 4680 metros de altitude...

Era 1h00 em ponto quando deixámos o Campo Base em direcção ao tão desejado cume do Nevado Pisco. Auxiliados por lanternas e bastões ultrapassamos a chamada Morena que é basicamente uma parte da montanha constituída por milhares de rochas fragmentadas pelo glaciar que em tempos aqui repousou. O cenário é cinzento, algo lunar e ainda estou para acreditar como consegui ultrapassar este labirinto sinuoso de rochas em plena escuridão. A desorientação era relativamente fácil por isso é que aconselho a serem acompanhados sempre por um bom guia.

Chegámos ao sopé do glaciar justamente ao nascer do sol e fui inesquecível observar a reflexão dos raios avermelhados nas montanhas esbranquiçadas. Iniciar a caminhada pelo gelo, auxiliado também por “granpones”, esteve por sua vez associada a um incremento da dificuldade e do risco, por isso é que nesta situação é aconselhado o uso de uma corda e um afastamento entre os elementos da expedição de mais ou menos 8 metros pois caso algum dos elementos caia numa greta é possibilitada uma reacção atempada e segura. Tive que transpor algumas gretas e admito que foi assustador aperceber-me da sua profundidade.

...o amanhecer na cordilheira Branca...

Nevado Huandoy...que requer escalada técnica em rocha.

...a la derecha el Nevado Huascarán!

...durante a caminhada fomos agraciados por bons momentos de sol!

...à direita o bem definido Nevado Arteson!

Pormenor do cume do Arteson...um sonho para qualquer alpinista...

...blanco y mas blanco...

Uma greta!

...o que faltava subir...

Algumas das subidas mais difíceis...

A última subida!

O percurso pelo gelo pico foi extenuante, nunca me senti tão cansado, cada passada significava um enterro na neve e cada metro percorrido era sinal de menos oxigénio… Curiosamente a temperatura não me causou qualquer problema.

Por isso mesmo tive vários momentos de descanso como se pode observar nas seguintes fotos…

Esta expedição também esteve associada a umahistória algo curiosa de um fotógrafo italiano que surgiu do nada, sem qualquer material de alpinismo e que com uma facilidade invejável alcançou o pico do Nevado Pisco. Imaginem o que é estarem no meio da neve e de repente surgir alguém a dizer “Buenos Dias!!!”. Algo assustador não? Mas este maluquito teve sorte…pois contam-se histórias de pessoas que se aventuraram sozinhas neste mesma montanha e que nunca mais foram avistadas.

...o maluquito ao longe...

Foi em completo esforço que ultrapassei a última subida e consegui alcançar o cume! No último passo dei um enorme salto de forma aterrar o mais rápido possível na parte mais plana das redondezas…Devo ter estado mais de 5 minutos deitado a tentar recuperar forças e a pensar como iria voltar…

No momento em que chegámos ao topo infelizmente estava nublado sendo apenas visível uma parte das montanhas vizinhas. Tinham passado 8h30 desde que iniciamos a caminhada e os relógios marcavam as 9h30. Nunca mais me esquecerei das formas pontiagudas do Arteson e do Alpamayo dai avistadas…

O momento de conquista!

...o que se pôde avistar do topo...

... e o nevoeiro que impediu a observação da restante cordilheira!

Me and Lucho!

Após uns minutos de êxtase começava a surgir um problemazito…como é que eu cansado como estava conseguiria regressar…e para agravar o problema sabia muito bem o que me esperava…

Mas como todos os santos ajudam…meio a rebolar…lá desci a montanha e foi quando comecei a avistar a parte do percurso nocturno…novamente refiro que ainda não sei como o conseguimos.

Após descidas e subidas pelo meio de grandes blocos de pedra e finalmente depois da última subida alcancei uma óptima posição para observar o Campo Base. Depois disto apenas faltava a última caminhada para a cama que me aguardava!


...ao centro pode-se avistar o Campo Base!

No dia seguinte, de madrugada, lá abandonámos a nossa posição para regressarmos à base da montanha e assim finalizarmos o desafio que tão cedo não irei ultrapassar!

Um grande plano do trajecto percorrido até ao topo!


...o que faltava descer...

Uma das várias vizcachas observadas...são algo entre lebres e chinchilas!

...um bezerrito assustado...

Para terminar queria reconhecer os conselhos, apoio e incentivo constante ao longo de toda a caminhada por parte do Lucho, o melhor guia de montanha do Peru. Se alguma vez quiserem fazer o mesmo não hesitem em contactá-lo na Galaxy Expeditions.